sábado, 19 de janeiro de 2008

Reflexões sobre Literatura

A trajetória das nossas leitura é muito parecido com os caminhos da nossa vida amorosa.
Quando começamos a sair, "ficar", namorar, não temos muita noção de como conquistar aquela garota. Como cantá-la? O que falar no primeiro encontro? Beijo de língua ou não? Ligo ou não ligo pra ela?
A menina pode te fazer de gato e sapato, mentir, trair, que vc acredita que ela é uma pessoa fantástica e sincera. Ah, o amor é o maior de todos os cliclês! Aquele que tudo vence, que é eterno... Praticamente um desenho da Disney!
Com o tempo, depois de muito amar, depois de muito quebrar a cara, a gente aprende as estratégias do jogo amoroso. Aprende qual cantada funciona, qual mulher vale o esforço, como beijar; reconhece se ela está te dando bola, quando ela está mentindo, quando ela está te manipulando etc.
Quando entramos no mundo da literatura, dá-se o mesmo. No início, é tudo maravilhoso. Um mar de descobertas e novas sensações. Somos como crianças aprendendo a amar. Tanto que não dá pra distinguir um Dan Brown de um Guimarães Rosa (e, geralmente, preferimos o primeiro como, geralmente, preferimos a garota mais bonita da sala e deixamos de lado aquela pessoa que está bem do nosso lado e que, realmente, vale a pena amar).
Ao avançarmos na floresta das leituras, aprendemos a reconhecer o estilo de cada autor e a entender as estratégias da narrativa. Você sabe quando o autor manipula seus sentimentos. Fica atento para o modo como ele lida com as palavras, como desenvolve as personagens, como lida com os clichês... Os lugares-comuns não são ruins, mas empregados em demasia empobrecem o texto.
É claro que ninguém começa lendo Proust. Raramente a gente começa a vida amorosa ficando com aquela "deusa" do colégio. A não ser que você seja superdotado (no primeiro caso) ou assustadoramente bonito (no segundo caso). Pra isso existem os Paulos Coelhos da vida. O problema é ficar apenas nestes.
Acho que foi Borges quem fez uma comparação entre as mulheres e a literatura. Disse que existem a mulheres fáceis e as mulheres difíceis, assim como existem as leituras fáceis e as difíceis. A mulheres fáceis se entregam a nós sem muita resistência, sem grande encanto e sem muito esforço. Logo, nos desinteressamos delas facilmente. É bom, mas não dura. O gostoso é lutar para conquistar uma mulher, aquela que não se entrega facilmente. Cheia de mistérios e segredos. Aquela que requer cantadas, flores, ligações, juramentos, lágrimas e que marca nossa vida de forma única. Qual você prefere?
A boa literatura é justamente aquela que não se entrega facilmente ao leitor, que requer uma boa dose de interpretação e de reflexão. Aquela que requer esforço e trabalho para, enfim, decifrá-la, traduzi-la.

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