sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Mensagem de luto: missa de 7º dia da mãe do Serginho

Texto que escrevi para ler durante a missa de 7º dia do falecimento da D. Heloísa, mãe do Serginho:

Muitos de nós não pudemos estar presentes no momento de dor, impossibilitados de oferecer a mão amiga para tornar a perda de Sérgio e Yolanda menos pungente. No entanto, amigos são aqueles que se fazem presentes mesmo na ausência. Por isso, nesta cerimônia, em nosso nome, pretendo dizer algumas palavras de saudade e de consolo.
Conheci a D. Dudu, como costumávamos chamá-la, por intermédio do seu filho. E, nesse anos todos que se seguiram a nossa amizade, o que mais me prendeu à memória foram sua serenidade e sua alegria contagiante. Alegria de alguém cúmplice dos nossos churrascos, das nossas brincadeiras, das nossas viagens.
Como esquecer os estrogonofes com cinzas de cigarro, os bifes acebolados pacientemente passados em madrugadas carnavalescas para um extenso grupo de foliões exaustos ou o dia em que eu – invocando S. José, S. João e S. Judas – andei num carro com a D. Dudu ao volante? Comumente éramos chamados por ela de “meu filho”. E, como um deles, era que ela nos tratava.
Mas, um dia, nossos entes queridos se vão. Quando menos esperamos e sem nenhum aviso, Deus tira de nós o que mais amamos. Nessas horas, as palavras de conforto parecem apenas agravar ainda mais a dor. Cada “meus pêsames” ouvido parece equivaler a um punhal que cala fundo.
Às vezes, em nossos pensamentos, podemos nos punir e nos culpar por nunca termos dito “te amo”; “preciso de você”, “estou sempre aqui”, “me preocupo com você”, ou, então, podemos pensar: “a culpa foi minha”.
Qual a resposta para essa dor?
O tempo e uma certeza: quando amamos, transmitimos esse amor em pequenos atos e gestos. As palavras não importam mais. Quando precisamos de alguém, sentimos sua presença, e as palavras não têm mais sentido; quando nos sentimos sós e abandonados, surge uma palavra ou um gesto e descobrimos que nunca estaremos sós.
E a culpa?
A culpa é da vida, que tem inicio, meio e fim. A nossa culpa está apenas em amar tanto e sentir tanto perder alguém. Porém, o tempo é remédio e nele conquistamos o consolo. Com o seu passar, o pesar dá lugar à lembrança dos bons momentos. E, com um pouco mais de tempo, transformamos nossos entes queridos em eternos companheiros.
Nossos sonhos ganham novos visitantes e nossa vida conquista anjos. No fim, fica uma saudade e uma outra certeza: não importa onde estejam, eles estarão sempre conosco.
Gostaria de encerrar com as belas e sábias palavras do “Poema de Natal” do poeta Vinícius de Moraes:

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.