quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Auto-estima

eu não preciso
que você goste
de mim

auto-estima
é isso?

Nicolas Behr

We're bachelors, baby!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Hedonismo

Sim, sim, eu sei, cigarro faz mal e sexo pode ser perigoso. Mas uma estranha e perturbadora epidemia parece ter tomado conta do país ultimamente na forma de uma absurda premissa: “se você evitar tudo que é agradável, terá uma vida longa e feliz.” Mas será possível mesmo encontrar a felicidade numa corrida vertiginosa, num ambiente onde é proibido fumar, de Palm Pilot na mão, atrás do ideal capitalista? Semanas de sessenta horas de trabalho, volumosas carteiras de ações e uma agenda abarrotada de compromissos são realmente a chave para se viver bem? Eu acho que não.
Nestes últimos anos, o mundo ocidental virou um pastiche caleidoscópico de luzes intensas, manipulações pela mídia, fofocas globais e desesperada competição. As pessoas passam o dia inteiro com os olhos pregados na tela dos computadores, almoçam nas suas mesas de trabalho, planejam suas programações diárias em aparelhinhos portáteis e marcam “dias de folga” para brincar com os filhos. Obcecados com a idéia de ficarmos mais ricos, mais magros, mais bem-sucedidos e, por incrível que pareça, mais jovens, milhões de nós nos privamos todos os dias daquilo que, iludidos, acreditamos estar correndo atrás – viver bem. Depois de um longo dia de trabalho, queremos chegar logo em casa e assistir pela televisão àquilo que é curiosamente conhecido como reality shows, só para voltar ao escritório no dia seguinte e discutir as surpreendentes reviravoltas das realidades pré-fabricadas de estranhos, ficando as nossas próprias vidas reduzidas a um segundo plano. Esse ritmo febril é às vezes compensado com exercícios físicos cronometrados, dietas sem carboidratos, um espesso copo de suco de clorofila e duas semanas de “férias” cuidadosamente planejadas on-line. Felicidade, percebe?
Somadas a esse encantador coquetel de confusões, encontram-se leis cada vez mais caprichosas que fazem os fumantes se agruparem nas calçadas, as lanchonetes revelarem a chocante novidade de que a comida que estão servido pode deixar você mais gordo, os e-mails serem monitorados, os bancos das praças terem divisórias para que ninguém se deite neles e criando várias restrições à linguagem e ao estilo de vida em geral. Dá a impressão de que nós – as massas – nos tornamos pouco mais do que patinhos gordos que precisam ser pastoreados ao longo da vida para não nos desviarmos para o perigoso terreno da responsabilidade pessoal e do livre-arbítrio.
Num determinado momento, “viver bem” torna-se um objetivo imaginado num ponto muito distante a que se chega apenas com um esforço psicótico e uma obstinada determinação. Como hamsters cafeinados numa roda, começamos a correr, a suar, aceitar sacrifícios e entrar em pânico. Pode-se perder peso, mas a insatisfação pessoal permanece. A promoção pode ser conquistada, mas as despesas continuam crescendo. Em apesar e todo o nosso sucesso aparente, no íntimo o sentimento de inadequação e o desaprovador sarcasmo dos vizinhos parecem ampliados. Alguma coisa estaria errada neste plano mestre? Existe alguma coisa, alguma chave perdida para o reino da felicidade que está sendo esquecida? Pode apostar que sim.
FLOCKER, Michael. Manual do hedonista: dominando a esquecida arte do prazer. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. p. 13-15.

Um adivinho me disse

Era um vez um feirão de livros que ocorreu em um supermercado na cidade de Alfenas. Acontecimento mais surrealista impossível. Dada a cidade. E dado o supermercado, local tão pouco afeito à elucubrações lítero-culturais.
Afinal, quem poderia imaginar que encontraria uma delícia como "Um adivinho me disse", de Tiziano Terzani, num lugar onde normalmente me preocupo apenas com embutidos, sabonetes e sacos de lixo de 15 litros?
Nosso primeiro encontro [entre mim e o livro] não foi dos mais auspiciosos. Lendo a orelha, parecia mais um desses augustoscurys da vida.
Não comprei.
Surpreendentemente, no dia subseqüente àquele pequeno flerte, havia dois (repito: dois!) exemplares em cima da mesa de jantar da casa de meus pais. Ambos [meus pais] haviam, indvertidamente, comprado o mesmo título no mesmo feirão mercadológico.
Certamente, Terzani interpretaria tal coincidência como um aceno do destino.
Ainda bem!
Terzani era um jornalista italiano [faleceu em 2004] apaixonado pelo Oriente. Nos anos 70, em Hong Kong, um adivinho havia predito que o autor correria um risco de acidente aéreo em 1993. Esse foi um belo pretexto para ele - conforme o malfadado ano se aproximava - decidir percorrer o Oriente utilizando qualquer meio de transporte que não fosse o avião.
E é um prazer acompanhá-lo pela Tailândia, pelo Camboja, pela Birmânia, pela Malásia e tantos outros lugares ainda então transbordantes de misticismo, de velhas lendas, antigos mitos, crenças ancestrais. Um universo que, apesar do canto da sereia do mundo ocidental e do afã nivelador do progresso, ainda teima em existir.


Raramente a humanidade esteve, como nesses tempos, privada de figuras essenciais, de personagens-luz. Onde está um filósofo, um grande pintor, um grande escritor, um grande escultor? Os poucos que vêm à mente são sobretudo fenômenos da publicidade e de marketing.
A política, mais que qualquer outro setor da sociedade, em especial a ocidental, está na mão de medíocres. A causa é precisamente a democracia, que virou uma aberração da idéia original quando se tratava de votar para ir ou não à guerra contra Esparta e, depois..., de ir de verdade, de ir pessoalmente, talvez para morrer. Hoje, democracia significa, no máximo, ir a cada quatro ou cinco anos colocar uma cruz sobre um pedaço de papel e eleger alguém que, porque deve satisfazer a tantos, tem necessariamente de ficar em cima do muro, medíocre e banal como são sempre todas as maiorias. Se por acaso aparecesse uma pessoa excepcional, alguém com idéias fora do comum, com algum projeto que não fosse sossegar todos prometendo felicidade, não seria jamais eleito. Muitos nunca lhe dariam um voto.
E o que dizer da arte, àquele atalho à percepção de grandeza? Ela tampouco tem ajudado as pessoas a entender a essência das coisas. A música parece feita para chegar aos ouvidos e não à alma; a pintura é com freqüência uma ofensa aos olhos; a literatura também é sempre mais dominada pelas leis do "mercado". E quem ainda lê poesia? Seu valor de exaltação foi esquecido! Mesmo assim uma poesia pode acender no peito um calor forte como o amor. Uma poesia, mais que todos os uísques, mais que o Valium e o Prozac, pode "levantar o astral", aliviar a alma, porque eleva o ponto de vista para o qual olhamos para o mundo. Quando a gente se sente só, seria melhor encontrar companhia no ler belos versos do que ligar a televisão!
Angela diz que, se tivesse de eliminar uma das invenções deste século, antes da bomba atômica eliminaria a televisão. Pensando bem, ela tem razão. A televisão reduz nossa capacidade de concentração, embota as nossas paixões, nos impede de refletir, impondo-se como o mais importante - quase único - veículo de consciência. Ocorre que nenhuma verdade é mais falsa que a da televisão. Ela transforma casa acontecimento, cada emoção em um espetáculo, como resultado de que ninguém consegue mais se comover ou se indignar com nada. Por meio da televisão depositamos milhares de informações, mas nos tornamos moralmente ignorantes. A televisão distrai, faz passar o tempo! Mas é isso que realmente queremos?
Quanto mais olhamos à nossa volta, mais nos damos conta de que o nosso modo de viver se torna sempre mais insensato. Todos correm, mas para onde? Por quê? Muitos sentem que esse correr não corresponde a nós e que nos faz perder tantos velhos prazeres. Mas quem tem coragem de dizer: "Parem! Mudemos a rota"? Se estivéssemos perdidos em uma floresta ou em um deserto, nos obrigaríamos a procurar uma saída! Por que não fazer o mesmo com esse bendito progresso que alonga a nossa vida, nos torna mais ricos, mais sadios, mais belos, mas no fundo nos dá sempre menos felicidade?
Não é de estranhar que a depressão tenha virado um mal tão comum. É quase encorajador. É um sinal de que dentro das pessoas resta um desejo de humanidade.

TERZANI, Tiziano. Um adivinho me disse. Rio de Janeiro: Globo, 2005, p. 269-270.

Lendo "O herói de mil faces"

Confesso que me interessei por Joseph Campbell ao descobrir ter sido ele o grande inspirador para a criação da trilogia cinematográfica "Guerra nas estrelas", do George Lucas.
Mas me viciei mesmo ao ler "O poder do mito": uma daquelas obras que dão um nó na cabecinha da gente.
Certos livros têm o efeito psicotrópico de algumas drogas. Depois de lê-los, as portas fechadas de uma realidade, outrora desconhecida, se abrem. E passamos a ver o mundo com outros olhos.
O poder do mito foi um deles. "As máscaras de Deus: mitologia primitiva", foi outro.

Agora tô lendo "O herói de mil faces".
Não é tão bom quanto os anteriores, mas, mesmo assim, é possível aprender muito sobre o ser humano através das narrativas arquetípicas da humanidade, repletas de uma sabedoria ancentral, apresentadas por esse mitólogo fantástico.

Estudar essas histórias é aprender a viver.

A mulher representa, na linguagem pictórica da mitologia, a totalidade do que pode ser conhecido. O herói é aquele que aprende. À medida que ele progride, na lenta iniciação que é a vida, a forma da deusa passa, aos seus olhos, por uma série de transfigurações: ela jamais pode ser maior que ele, embora sempre seja capaz de prometer mais do que ele já é capaz de compreender. Ela o atrai e guia e lhe pede que rompa os grilhões que o prendem. E se ele puder alcançar-lhe a importância, os dois, o sujeito do conhecimento e o seu objeto, serão libertados de todas as limitações. A mulher é o guia para o sublime auge da aventura sensual. Vista por olhos inferiores, é reduzida a condições inferiores; pelo olho mau da ignorância, é condenada à banalidade e à feiúra. Mas é redimida pelos olhos da compreensão. O herói que puder considerá-la tal como ela é, sem comoção indevida, mas com a gentileza e a segurança que ela requer, traz em si o potencial do rei, do deus encarnado, do seu mundo criado.
Conta-se por exemplo a história dos "cinco filhos do rei irlandês Eochaid": fala-se de como, tendo ido caçar, num certo dia, viram-se eles perdidos, afastados de tudo e de todos. Sedentos, puseram-se, um por um, a buscar água. Fergus foi o primeiro: "E ele encontra um poço, junto ao qual há uma velha mulher, de sentinela. Tem a velha a seguinte aparência: mais negras que o carvão eram todas as suas juntas e partes, da cabeça aos pés; comparável ao rabo de um cavalo selvagem era a dura massa cinzenta que ocupava a parte superior da cabeça; com o golpe de uma presa esverdeada que dali saía, encurvada até tocar-lhe a orelha, ela podia cortar o verdejante galho de um carvalho em plena pujança; tinha olhos escurecidos e esfumaçados; nariz torto, com amplas narinas; barriga pintalgada e encarquilhada, acometida de todo tipo de doenças; canelas horrivelmente deformadas, guarnecidas de maciços tornozelos e de pés que pareciam grandes pás; tinha nodosos joelhos e unhas cor de chumbo. Com efeito, todos os traços da megera eram desagradáveis. 'É aqui, não é?', disse o rapaz; 'Justamente', respondeu ela. 'Estás guardando o poço?', perguntou ele; e ela disse: 'Sim'. 'Permites que eu leve um pouco de água?' 'Claro', consentiu ela, 'mas terei de receber de ti um beijo na face.' 'Nada disso', disse ele. 'Então não te darei água.' 'Dou-te minha palavra', ele prosseguiu, 'que, antes de dar-te um beijo, possa eu morrer de sede!' E o jovem partiu para o local onde estavam seus irmãos e lhes disse que não havia conseguido água".
Olioll, Brian e Fiachra, que foram buscar água em seguida, um após outro, também chegaram ao mesmo poço. Todos pediram à velha que lhes desse água, mas lhe negaram o beijo.
Por fim, chegou a vez de Niall, que chegou ao mesmo poço. "'Deixa-me tomar água, mulher!', exclamou. 'Por certo', disse ela, 'e tu me darás um beijo.' Ele respondeu: 'Além do beijo, dou-te também um abraço!' E ele se inclina para abraçá-la e lhe dá um beijo. Feito isso, ele a olha e eis que não havia no mundo uma jovem mais graciosa, de aparência mais bela que a dela: semelhante à última neve a cair, espalhada em valas, era cada uma de suas partes, do topo da cabeça à sola dos pés; antebraços roliços e majestosos, dedos longos e delgados, pernas bem-torneadas de cor agradável; duas sandálias de um belo bronze se interpunham entre os lisos e suaves pés e a terra; havia sobre ela uma ampla manta da melhor lã, puro carmesim, e, sobre suas vestes, um broche de prata branca; tinha ela brancos dentes perolados, grandes olhos magnificentes, a boca rubra como a sorva. 'Há aqui, mulher, uma galáxia de encantos', disse o jovem rapaz. 'É de fato verdade.' 'E quem és?', prosseguiu. 'Sou a Regra Real', respondeu ela, e disse:
" 'Rei de Tara! Sou a Regra Real. . .'
" 'Vai agora', disse ela, 'para ter com teus irmãos e leva água contigo; doravante, de ti e dos teus filhos para sempre o reino e o poder supremo serão... E tal como me viste antes feia, embrutecida, repugnante — e, no final, bela —, assim é a regra real: pois, sem batalhas, sem implacável conflito, ela não pode ser ganha; mas, no final, aquele [que ganha] é rei de tudo de atraente e belo que resulte.' "
É assim a regra real? Assim é a própria vida. A deusa guardiã do poço inesgotável (...) requer que o herói seja dotado daquilo que os trovadores e menestréis denominavam "coração gentil".
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces.

"... se as pessoas comessem a música que a mídia lhes serve para ouvir, já estariam mortas há muito tempo."

Muitos fatores contribuíram para o ritmo avassalador tomado pela música popular nas últimas décadas - um ritmo que não condiz com o batimento cardíaco e que, para ser tolerado, exige o uso de substâncias que acelerem tal batimento. Um deles é a nossa omissão. Deixamo-nos vergar pela tecnologia sonora, pela mídia e por essa exótica categoria "artística": os DJs.
Fast food é junk food, como se sabe, e há uma relação óbvia entre junk food e junk music: se as pessoas comessem a música que a mídia lhes serve para ouvir, já estariam mortas há muito tempo.


CASTRO, Ruy. O ritmo do coração. Folha de S. Paulo, São Paulo, 12 ago. 2009, p. A-2.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Vai sê bão lá diãtche!

Meu Ranking das Cervejas

1º Lugar: Corona (México)

2º Lugar: Skol Beats (Brasil)

3º Lugar: Baden Baden Cristal (Brasil)

4º Lugar: Stella Artois (Bélgica)

5º Lugar: Erdinger Dunkel (Alemanha)

6º Lugar: Baden Baden Red Ale (Brasil)

7º Lugar: Norteña (Uruguai)

8º Lugar: Heineken (Países Baixos)

9º Lugar: Devassa (Brasil)

10º Lugar: Brahma (Brasil)

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Reflexão

Passamos a adolescência tentando nos comportar como adultos e passamos a idade adulta nos comportando como adolescentes.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009