segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Elegia para um bar


Recebo a notícia de que o O'Malley's fechou as portas. Foi o meu primeiro bar em São Paulo. Ou o meu bar primeiro. Como o primeiro beijo, a primeira namorada ou o primeiro porre. Era um pub um tanto quanto sórdido. Os melhores bares têm de ter algo de sórdido, de sujeira, de escuridão. Como se, ao adentrarmos neles, adentrássemos em nós mesmos: sórdidos, sujos e repletos de escuridão... Sempre em busca de sonhos. Essa doce ilusão pela qual procuramos estava lá, nas suas prostitutas baratas, nos seus ingleses e americanos bêbados, nos festejos anuais do St. Patrick's Day, na Erdinger's escura, no Kebabs apimentado.
Acompanhei suas mudanças e ele, as minhas: ele, com a troca de nome (antes chamava-se Finnigan's), a retirada do varal de calcinhas, a ampliação com o acréscimo de uma pequena boate, a entrada com consumação; eu, com a minha troca de eus, de namoradas, a retirada de alguns ideais e o acréscimo de algumas esperanças.
Bares são como mulheres. Devemos escolhê-los a dedo e sermos fiéis a eles. É preciso amá-los com egoísmo e volúpia. Ao menos até surgir outros mais interessantes em nossas vidas! Mas certas mulheres, assim como certos bares, mesmo quando passam pelas nossas vidas, deixam uma marca indelével na gente. Lembramos aquela pequena cicatriz que ela tinha no joelho, o perfume que usava, a maneira como sorria ou fazia amor. Do O'Malley's, eu me lembro dos poemas e das flores de papel endereçados às incautas senhoritas, do tombo que presenciei de um jovem que dormia sentado junto ao balcão, das fritas que dividi com uma garota-de-programa japonesa, das madrugadas em que fiquei por lá acompanhado da minha solidão, dos erros que cometi, das risadas que ofertei...
Hoje já não moro mais em São Paulo, mas o carrego sempre comigo, na minha memória. Muitas lembranças. Tantas lembranças como as das amadas que perdemos pela vida.

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