sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Fotografei você na minha Rolleiflex

Estou em viagem pelo Atlântico. E tudo o que vejo são máquinas fotográficas. Eu não trouxe a minha. Há muito não a uso. Percebi que, no afã de registrar nossas viagens, nós realmente não aproveitamos o que mais importa: a viagem. Em meio a esse nosso desejo louco por imortalidade, queremos congelar um pedaço do tempo e deixá-lo lá no freezer para alimentar, talvez, algum interessado das gerações procedentes.
O problema é que ficamos preocupados demais em mostrar as fotografias aos amigos, colegas e familiares. Estes, invariavelmente, olham aquelas imagens com enfado e desinteresse. Ou então com mórbida curiosidade (ela engordou? ele está solteiro? ela fez plástica! ele arrumou uma namorada com idade para ser sua filha!). 
Quem teve de enfrentar um vultoso álbum de fotografias de um casal de amigos com imagens do último passeio feito à Europa ou à Disneyworld ou à Ubatuba sabe muito bem do que estou falando. Há também a possibilidade de, por meio das fotos, bisbilhotar nossas vidas através das redes sociais, como forma de saciar o interesse constante pela vida alheia. 
Porém, por que publicamos, na rede, tantas imagens pessoais?
Acredito que o fazemos porque ficamos preocupados demais em mostrar o quanto somos (ou estamos) felizes, viajados e afortunados. Ficamos preocupamos em mostrar como estamos bronzeados, bem vestidos,  bem alimentados. Viajamos não para sentir, mas para mostrar. “Vaidade das vaidades...”
Me parece que, por traz de todos aqueles sorrisos e aquelas poses, há tristeza, solidão, vazio. Há um desejo por carinho, por reconhecimento, por admiração. Há uma vontade de ser querido, idolatrado, invejado. 
Na verdade, aquelas imagens são registros da nossa miséria. Uma miséria risível, no entanto. A tal "comédia humana".
Prefiro minhas memórias dos lugares que vi, das comidas que provei, das pessoas com quem me deparei a copiá-las em papel. É claro que momentos importantes para nós devem ficar registrados. Um abraço fraternal, um filho recém-nascido, um beijo apaixonado, um pôr do sol melancólico. Esses momentos, porém, são relativamente raros. Não resultariam naqueles milhares de fotos que comumente tiramos. Quem, hoje, traz 10 ou 12 fotos de suas viagens? Ou será que a pessoa passou por 30 ou 100 eventos marcantes? Isso é que é ser afortunado...

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