sábado, 26 de abril de 2008

Dica literária


Comprei, recentemente, o livro O triste fim do pequeno menino ostra e outras histórias. É um livro infanto-juvenil de poemas escrito por um dos diretores de cinema mais criativos da história: Tim Burton. Autor de filmes como Edward Mãos-de-tesoura (que eu adoro).
Ele ilustra e leva pro papel todo aquele seu universo gótico de seres desajustados (no caso, crianças). O título já dá uma boa idéia do que eu estou falando.
O gostoso é que trata-se de um livro inusitado, lírico, engraçado e melancólico ao mesmo tempo. O autor nos poupa da poesia adocicada e pegajosa que reina nesse tipo de publicação. Sem moralismos. Ou finais felizes.
Um dos meus poemas favoritos é "O menino robô", que reproduzo aqui (depois eu coloco mais). Primeiro, a versão original, porque muiita coisa se perde na tradução. Depois, a versão feita pelo Márcio Suzuki (pra quem não lê inglês).

ROBOT BOY

"Mr. and Mrs. Smith had a wonderful life.
They were a normal, happy husband and wife.
One day they got news that made Mr. Smith glad.
Mrs Smith would be a mom,
which would make him a dad!
But something was wrong with their bundle of joy.
It wasn't human at all,
it was a robot boy!
He wasn't warm and cuddly
and he didn't have skin.
Instead, there was a cold, thin layer of tin.
There were wires and tubes sticking out of his head.
He just lay there and stared,
not living or dead.

The only time he seemed alive at all
was with a long extension cord
plugged into the wall.

Mr. Smith yelled at the doctor,
'What have you done to my boy?
He's not flesh and blood,
he's aluminium alloy!'

The doctor said gently,
'What I'm going to say
will sound pretty wild.
But you're not the father
of this strange-looking child.
You see, there still is some question
about the child's gender,
but we think that its father
is a microwave blender.'

The Smiths' lives were now filled
with misery and strife.
Mrs. Smith hated her husband,
and he hated his wife.
He never forgave her unholy alliance:
a sexual encounter
with a kitchen appliance.

And Robot Boy
grew to be a young man.
Though he was often mistaken
for a garbage can."

***
Senhor e senhora Silva levavam uma vida
sossegada.
Vida de gente normal, feliz e bem casada.
Um dia tiveram uma notícia
Que encheu o marido de contentamento:
A mãe esperava um filho,
E ele ia ser pai do rebento!
Mas algo deu errado naquele mar de felicidade.
A criança era... um robô!
Não parecia gente de verdade.
Um bebê nem quente nem fofo, que estranho!
A pele: uma fina e fria chapa de estanho.
Da cabeça lhe saíam antenas e fios.
E ele ficava largado, sempre com olhos parados,
Nem morto nem animado.

Quando até a tomada um longo fio
Elétrico se estendia,
Este era o único momento do dia
Em que ele ficava cheio de energia.

O senhor Silva não conteve os berros:
"O doutor não cometeu um grave erro?
Nem sangue nem carne tem o menino,
Mas é uma simples liga de alumínio!"

O doutor, gentil, lhe respondeu:
"O que vou lhe dizer
Pode parecer extravagante
Mas o senhor não é o pai
Desse garoto mutante.
Veja bem, a questão não é simples
E requer investigação profunda,
Mas achamos que o pai dele
É o forno microondas."

Agora a vida dos Silva
Tornou-se um fardo pesado.
A senhora odiava seu marido,
E ele já não se via mais casado.
Não perdoou a esposa por aquela
Ligação mesquinha:
A união carnal
Com um aparelho de cozinha.

Apesar de tudo, o menino cresceu
E se tornou um robô jovem.

Mas muitas vezes ainda o confundem
Com a lata de lixo da garagem.



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