sábado, 24 de maio de 2008

Tchekov

Já que tô numa fase russa de literatura, aproveitei pra iniciar a tão adiada leitura de:



A edição está esgotada. Comprei-a em 2005, mas nunca tinha tido o tempo para lê-la. Na verdade, são dois livros reunidos numa edição em homenagem ao grande escritor russo Tchekov: "Uma viagem à vida do escritor" traz detalhes da vida e dos lugares freqüentados por ele e "Contos traduzidos do russo" reúne os principais contos de Tchekov, como "A Senhora do Cachorrinho", traduzidos pela Tatiana Belinky, direto do russo.

Um aperitivo para quem se interessar:

Depois de dormirem juntos pela primeira vez, Dmitri Dmitrich Gurov e Ana Serguêievna von Dideritz, protagonitas do conto "A senhora com o cachorrinho" (1899), dirigem-se, ao amanhecer, a um vilarejo chamado Oreanda, nos arredores de Yalta, onde sentam-se num banco perto de uma igreja e ficam olhando o mar. "Yalta era quase invisível através da névoa matinal, sobre os cumes das montanhas, nuvens brancas pousavam imóveis", escreve Tchekov no início do trecho famoso, que continua:

"A folhagem não se movia nas árvores, as cigarras gritavam e o ruído monótono e surdo do mar, que chegava de baixo, falava da paz, do sono eterno que nos aguarda. O mesmo ruído soava lá embaixo, quando não existiam nem Yalta, nem Oreanda; ele soa agora e continuará soando da mesma forma indiferente e surda, quando nós não mais existirmos. E nessa constância, nessa total indiferença para com a vida e a morte de cada um de nós, talvez se aloje o penhos da nossa salvação eterna, o movimento incessante da vida na terra, da ininterrupta perfeição. Sentado ao lado da jovem mulher, que, ao alvorecer parecia tão bela, tranqüilizada e encantada em face desse ambiente de conto de fadas - o mar, as montanhas, as nuvens brancas, o céu imenso -, Gurov pensava que no fundo, se considerarmos bem, tudo é maravilhoso neste mundo, tudo, afora aquilo que nós mesmos cismamos e fazemos, quando nos esquecemos dos desígnios mais altos do ser, da nossa dignidade humana."

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