domingo, 6 de dezembro de 2009

Cultura não cheira bem

    Bem pertinente o texto de Jorge Coli, publicado hoje (6/12) na Folha. Para ele, o homem sofisticado culturalmente inspira desconfiança. Prova disso está no lugar que lhe reserva a cultura pop. Sempre no papel do psicopata, do desajustado, do misantropo arrogante.

Se alguém é culto, é porque há algo de errado com ele: alguma perversão sórdida, algum impulso assassino, alguma crueldade deve se aninhar, secreta, nessa alma. Cultura não cheira bem.
 (...)
Por vezes, certos retratos revelam que a cultura corrompe a pureza da alma, a energia espontânea. Sintoma de deliquescência, de decadência, de enfraquecimento, ela surgiria onde há falta de energia, de vitalidade, de virilidade.
Muita gente, por sinal, teme a cultura para seus filhos homens. Menino deve jogar futebol, e não ficar lendo livro, ouvindo ópera, indo ver exposição de pintura. É mau sinal. Quantos pais aceitam tranquilamente a vontade de um garoto de estudar balé -forma cultural particularmente crivada pelos preconceitos sexuais?
Cultura, coisa de pessoas privilegiadas, traz ainda uma inevitável marca de classe. Isso se espelha na oposição, que tantos proclamam, entre "cultura das elites" e "cultura popular", com desprezo por uma e valorização da outra.
Cultura é ainda desdenhada quando se suspeita nela o crime da erudição, mal-entendido como acúmulo estéril de conhecimento "não crítico". No entanto, qualquer um que tenha descoberto Picasso, Beethoven ou Dostoiévski sabe que as experiências oferecidas pela cultura modificam o espírito e que o melhoram. Percebe que sensibilidade, refinamento, estudo, saber e prazer imbricam-se nela.

    Hoje, vejo pais de alunos meus que se recusam a comprar livros a seus filhos. Para quê? É dinheiro perdido. Uma vez comprado, ele repousará depois de lido (se lido!) numa estante qualquer e não terá mais nenhuma utilidade. É o que dizem.

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